Banrisul apresenta retornos sobre PPR, mas mantém resistências em pontos centrais

A mesa de negociação sobre o Programa de Participação em Resultados (PPR) do Banrisul reuniu, na manhã de terça-feira (19/11), representantes da direção do Banco e da Comissão de Organização dos Empregados (COE), que aguardavam respostas às principais demandas apresentadas pela base em plenária realizada no dia 4 de novembro. O encontro tratou de ajustes no modelo de metas, critérios de distribuição, faixas de pagamento e reivindicações estruturais que impactam diretamente a vida funcional dos banrisulenses.

Novo sistema de acompanhamento de metas

Em relação a uma das pautas principais dos trabalhadores — a necessidade de mecanismos de acompanhamento que permitam melhor planejamento e execução do trabalho — o Banrisul informou ter implantado, em setembro de 2025, um novo sistema de metas, com tabelas, gráficos e dashboards atualizados mensal e semanalmente.

Segundo os representantes do Banco, o modelo está ancorado em três pilares:

1. Resultado operacional – depende do fechamento mensal e orienta a rentabilidade dos clientes;

2. Produtos e serviços – considerado a “bússola” para alcançar o resultado; volume de resultados medido diariamente;

3. Indicadores de desempenho – índice de eficiência de crédito; acompanhamento diário via gráficos e dashboards.

O Banco admite que esse modelo, devido a uma série de limitações, entrega as informações com um delay de pelo menos 4 dias (D+4), consolida os resultados mensalmente e é fechado no resultado semestral.

Mesmo elogiando as novas implementações, demanda recorrente dos banrisulenses, a COE reiterou que ainda há falhas no repasse de informações, especialmente nos casos de cancelamentos de produtos por parte de clientes, o que prejudica o controle e a apuração justa das metas.

Percentuais mínimos, risco do negócio e penalizações

Outra demanda tratada na mesa foi o fim da penalização gerada pelo descumprimento do percentual mínimo de alguns produtos escolhidos pelo banco (produtos elencados), prática que, na opinião dos sindicalistas, gera dupla punição aos colegas, além de desconsiderar distorções regionais e sazonalidades que fogem ao controle dos trabalhadores. Sobre isso, o Banco afirmou que os fatores regionais estão sendo considerados na elaboração das metas e que, quanto à sazonalidade, há esforços para ajustar as metas conforme o potencial e o histórico de cada região. Sobre o piso de 50% para os produtos elencados, afirmaram que no último semestre a diretoria deliberou pela desconsideração dos pisos, por conta de ter-se atingido o resultado global esperado. No entanto, os representantes do Banco ressaltaram que isso não se configura como regra. 

A COE insistiu que o modelo atual penaliza injustamente trabalhadores quando se desconsidera parte dos resultados por conta de fatores que muitas vezes são externos. “Quando se zera o resultado de quem não atingiu o mínimo, ocorre uma dupla punição. Ao invés disso, o Banco poderia instituir uma bonificação a quem atinge o mínimo de todos os produtos elencados. Seria uma forma alternativa e saudável de incentivar o foco nos produtos estratégicos para a empresa, garantindo que todo o trabalho executado pelos colegas seja considerado”, ponderou o coordenador da COE e presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região, Luciano Fetzner.

Os sindicalistas também voltaram a defender que não se pode transferir ao empregado os riscos da atividade econômica. “A penalização compromete a criatividade e o desempenho do trabalhador. Defendemos que o reconhecimento dos esforços, individuais ou coletivos, gera mais resultados do que punições. Não se pode penalizar os colegas por causa de coisas que são risco do negócio. Além de ser injusto, isso desmotiva as pessoas”, pontuou a coordenadora da COE e diretora da Fetrafi-RS, Raquel Gil de Oliveira.

Sobre a reivindicação que diz respeito aos clientes com ações judiciais e óbitos, os representantes do Banco afirmaram que falecidos e clientes superendividados que ingressaram com ações (tendo ou não liminar) foram desconsiderados nas carteiras — medida que, assim como no caso da supressão de pisos, não seria uma regra, mas uma deliberação da diretoria especificamente para esse semestre.

Aumento das faixas de distribuição

O Banco sinalizou que ainda está estudando os impactos da criação de duas novas faixas de lucro para o programa de PPR, de 1,4 e 1,5 bilhões, ampliando o intervalo que hoje é de R$600 milhões até R$1,5 bilhão. Afirmaram que até a próxima rodada haverá retorno sobre essa demanda. O Movimento Sindical considera que a criação dessas novas faixas seria positiva para o Banco e para os banrisulentes, pois dialoga com uma visão otimista sobre os resultados da empresa, que vem apresentando crescimento constante e recordes nos últimos resultados.

Semestralização das metas

Apesar da insistência da COE, o Banrisul demonstrou novamente uma grande resistência em relação a esse ponto. Representantes do Banco argumentaram que é difícil “engessar” metas, devido à influência de flutuações constantes do mercado e afirmaram que as mudanças feitas no último período teriam sido todas “benéficas aos empregados”. Também afirmaram que existem dificuldades técnicas para se viabilizar o pagamento de antecipação do PPR em setembro, alegando que não se pode pagar qualquer valor relativo a resultados do exercício (ano fiscal) sem que esse resultado esteja consolidado, sob pena, afirmam eles, de se dar sinais equivocados ao mercado e do risco de autuações por órgãos de fiscalização.

O Movimento Sindical afirmou que o debate sobre semestralização das metas deve ser dividido em dois aspectos: meta e pagamentos. Quanto às metas, a COE salienta a necessidade de metas definidas no início de cada semestre, com garantia de que não haja “arrochos” ao longo da execução, como regra. Já a respeito de antecipações de pagamento, foram feitos na mesa alguns exercícios sobre a possibilidade de antecipação sem vínculo direto com o resultado do exercício, como seria o caso da antecipação total ou parcial do valor mínimo, ou a respeito da demanda por reconhecimento do trabalho de colegas que tenham atingido as metas em apenas um semestre mas não alcancem os 70% no agregado no ano. Esse tema, considerado o mais complexo pela mesa, voltará a ser aprofundado no próximo encontro.

Reajuste do valor mínimo

O Banrisul aceitou atualizar os valores mínimos de 2023 e 2024 conforme a CCT. A COE propôs que o mesmo índice da CCT de 2025 também seja aplicado, passando o valor mínimo a reajustar anualmente a partir de 2026. A reivindicação de retorno da antecipação de 50% no mínimo em setembro também foi reafirmada pelos representantes dos trabalhadores.

Pontos que não avançaram

Distribuição das sobras do PPR: Banco afirma que nunca houve sobras e não vê motivo para avançar; a COE insistiu na criação desse mecanismo.

Equalização dos targets para os cargos afetados pela reestruturação: Segue sem retorno e será discutida na próxima mesa. Foi reiterado pela COE que esse ponto é central.

Valorização dos cargos preteridos no tombamento: COE reforçou a demanda de aumento de targets para gerentes de agro, gerentes de cobrança, auditores e assessores jurídicos.

Aumento do target para escriturários: pauta reafirmada, em defesa da valorização da base da pirâmide.

O Banrisul comprometeu-se a apresentar uma proposta consolidada na próxima mesa de negociação, agendada para 26 de novembro.

O Movimento Sindical seguirá cobrando avanços concretos para garantir um modelo de PPR mais justo, transparente e coerente com a realidade do trabalho bancário.

Edição: Fetrafi-RS

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