Emprego, saúde e fechamento de agências foram abordados no Encontro Estadual do Itaú

O Encontro Estadual dos Funcionários do Itaú ocorreu de forma virtual na noite da última terça-feira (8), reunindo dezenas de bancários para discutir os principais desafios enfrentados pela categoria. Assédio moral, saúde ocupacional, fechamento de agências, terceirização, remuneração, programas internos, assistência médica, segurança bancária e diversidade estiveram entre os temas abordados.

Eduardo Munhoz, representante dos trabalhadores do RS na Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú, considerou a atividade positiva. “Trouxemos um panorama sobre as pautas que serão debatidas nacionalmente, onde precisamos agir principalmente para garantir o plano de saúde para aposentados, barrar o fechamento desenfreado de agências e defender o emprego e a saúde dos trabalhadores do banco”, ponderou.

O Encontro Estadual serviu como preparação para o Encontro Nacional dos Funcionários do Itaú-Unibanco, que ocorre em 22 de agosto, em São Paulo, seguido da 27ª Conferência Nacional dos Bancários, de 22 a 24 de agosto.

Saúde financeira e digitalização

A atividade começou com apresentação (confira aqui) de Alisson Droppa, economista do Dieese, que detalhou os resultados financeiros do banco no primeiro trimestre deste ano. O Itaú, segundo ele, continua com alta lucratividade, mesmo com mudanças regulatórias.

“Os dados mostram que a saúde financeira do banco vai bem. Houve ampliação do lucro líquido em comparação com o ano passado, mesmo com alterações nas regras contábeis, e redução de custos com pessoal”, explicou Droppa. No primeiro trimestre, houve 13,9% de aumento nos lucros do Itaú, passando dos R$ 11 bilhões.

Ele destacou a política intensiva de digitalização, com o lançamento do super app em 2024 — que já migrou cerca de 10 milhões de clientes para a nova plataforma — e a expansão das agências digitais. O Itaú tem 99 milhões de clientes, dos quais cerca de 10% já estão na nova plataforma.

“O Itaú foi a instituição que mais avançou nisso, lançando o super app, que agrega um conjunto de operações, e saindo na frente inclusive do Banco Central. O Santander vem ampliando a precarização e terceirização, mas o Itaú não fica longe, também está fechando agências, terceirizando, e apostando na digitalização, que deve ser ampliada nos próximos anos”, comentou.

Hoje já são quase 10 mil funcionários do Itaú em agências digitais, segundo Jair Alves, coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária da Contraf-CUT. O banco conta com mais de 67 mil funcionários, sendo cerca de 1.300 no Rio Grande do Sul. As contratações vêm ocorrendo majoritariamente na área de TI, com quase 15 mil empregados nesse setor, dos quais 500 são cientistas de dados, que atuam no desenvolvimento de inteligência artificial. “Atualmente 80% do Itaú está na nuvem. Para 2030 a expectativa é chegar a 100%, mas, pelo ritmo atual, pode ser antes até”, disse.

Fechamentos e emprego bancário

Droppa também apresentou números sobre o fechamento de agências no setor bancário. Em 12 meses, os cinco maiores bancos fecharam mais de 1.000 unidades, sendo 222 do Itaú. Apenas no primeiro trimestre de 2025, 95 foram fechadas pelo banco. O número pode ser ainda maior, pois não considera casos em que o banco fecha o espaço físico e junta a unidade a outra agência nas proximidades.

“A trajetória do emprego bancário no país desde 2013 mostra uma redução de quase 91 mil postos de trabalho no setor. Mesmo o Itaú podendo duplicar seu patrimônio líquido a cada quatro anos, isso não tem refletido em aumento da qualidade do emprego”, alertou o economista. Segundo ele, isso ocorre pela migração para o trabalho terceirizado no sistema financeiro e pela pressão dos bancos tradicionais para competir com fintechs e novas plataformas.

O Comando Nacional dos Bancários está tratando com a Fenaban sobre a criação de um grupo de trabalho para debater sobre fechamentos e realocação de funcionários, que também gera preocupação, conforme o coordenador do Coletivo de Segurança da Contraf-CUT. 

O movimento sindical cobra do Itaú mais informações, já que o banco afirmou que 90% dos trabalhadores das agências fechadas foram realocados. “O banco informa apenas sobre os fechamentos, mas não para onde cada funcionário vai. Pedimos para acompanhar esse processo, para garantir os direitos dos trabalhadores, e também que os realocados não sejam avaliados no primeiro ano para evitar demissões disfarçadas”, explicou.

Plano de saúde e aposentados

Sobre o tema da assistência médica, Alves defendeu a realização de audiências públicas para discutir o plano de saúde para ativos e aposentados. “Já fizemos três mesas de negociação com o banco, sem avanços para os aposentados. Muitos não conseguem pagar os valores cobrados”, denunciou. Segundo ele, aposentados estão deixando o convênio por não conseguirem arcar com custos que chegam a R$ 2.200 por pessoa no plano de enfermaria, o mais em conta. 

Hoje são 15 mil aposentados no plano de saúde. Além da negociação com o Itaú, a pauta já chegou ao Ministério Público do Trabalho (MPT), mas sem uma resolução positiva. O dirigente ressaltou que foram realizadas audiências públicas em algumas localidades e a ideia é ampliar o debate, pleitear apoio de vereadores e deputados, e promover novas audiências nos diversos estados.

“Estamos também buscando criar uma associação dos aposentados do ramo financeiro para fortalecer a negociação com os convênios médicos sobre planos de saúde mais acessíveis e que contemplem as necessidades dos idosos”, afirmou.

Sobrecarga e condições de trabalho

Augusto Borges, diretor do SindBancários e conselheiro fiscal da Fundação Itaú, trouxe o relato direto da base sobre a difícil realidade enfrentada. “Estamos numa luta em defesa do emprego da categoria. Conversei hoje com colegas de uma agência que vai fechar, que estão sobrecarregados, adoecidos. Muita coisa está migrando para o digital, mas quem fica nas agências está cada vez mais pressionado”, comentou.

Ele defendeu que o tema seja levado à Conferência Nacional dos Bancários e destacou a importância de lutar pela manutenção do atendimento presencial, já que houve redução do número de trabalhadores, mas a população ainda procura pelos serviços nas agências.

“Temos que defender também o PCR (Programa Complementar de Resultados) linear e debater a perspectiva do sistema financeiro para os próximos anos. A Fundação Itaú busca ainda ter voz nas discussões com o banco e reabrir o plano de previdência que existia antes”, disse.

Segurança bancária

O tema da segurança também foi trazido pelo coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária da Contraf-CUT. Entre as reivindicações do movimento sindical estão a garantia de no mínimo dois vigilantes por agência e abastecimento dos caixas eletrônicos antes ou depois do horário de expediente.

“Queremos também que as agências digitais não tenham dinheiro físico, para reduzir os riscos aos trabalhadores. Mas, mesmo nesses casos, se não houver porta giratória, exigimos que tenha vigilantes”, salientou.

Ele informou que haverá reunião sobre o tema em São Paulo nesta quinta-feira (10) e a expectativa é que ocorra negociação com a Fenaban no fim de agosto ou início de setembro. 

Diversidade e inclusão

Conforme Alves, o Itaú vem aumentando a contratação de mulheres, negros, LGBTs e PCDs. Entretanto, o banco não cumpre sua normativa sobre PCDs, conforme denúncia de uma trabalhadora. O dirigente reconheceu que ainda há muito a avançar no tema da diversidade e inclusão no meio bancário. “Temos cobrado mais contratações de mulheres, especialmente em TI, que é majoritariamente masculina, e de pessoas negras e PCDs, mas não adianta só contratar — é preciso dar visibilidade e colocar essas pessoas no atendimento”, ressaltou.

Isis Garcia, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, alertou para a relação entre precarização e o espaço conquistado pelas mulheres. “O movimento sindical bancário trabalhou muito na redução de danos, e tivemos avanços para as mulheres, mas a precarização e a exploração da jornada estão ligadas a esse espaço conquistado. As mulheres precisam se submeter a outras jornadas impostas a nós”, pontuou.

Ela destacou ainda a necessidade de o movimento sindical fiscalizar o setor de TI para garantir que as trabalhadoras tenham acesso a qualificação e crescimento profissional.

Fonte: SindBancários de Porto Alegre

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