De olho nas eleições: candidatos privatistas miram a venda do Banrisul

Veja o que os candidatos a governador pensam sobre a privatização do banco

O Banrisul, no topo dos bancos mais rentáveis do país, está a perigo. Na contramão do que quer o povo gaúcho – segundo recente pesquisa do Ipec (antigo Ibope) no RS, a maioria da população do Estado é contra a venda do banco público* –, grande parte dos candidatos ao governo demonstram sua falta de compromisso com a manutenção de um dos maiores patrimônios dos gaúchos e gaúchas.

Em reportagem do Jornal Zero Hora desta quinta-feira (8), os candidatos ao governo expressaram suas opiniões a respeito da privatização do Banrisul. Dois candidatos se posicionaram claramente a favor da venda: Eduardo Leite (PSDB) e Ricardo Jobim (Novo). Leite, inclusive, só não privatizou o banco porque deixou o governo antes.

Candidato à reeleição, Eduardo Leite já declarou, em janeiro, que a venda do banco seria “inevitável” e “apenas uma questão de tempo”. Com o argumento de que a decisão final será da Assembleia Legislativa, Leite tergiversa e mascara suas intenções. Afinal, o Legislativo só pode deliberar sobre o tema caso o governador envie uma proposta de privatização.

Há ainda outros candidatos igualmente privatistas, embora utilizem subterfúgios para condicionar a venda, como Luis Carlos Heinze (PP) e Onyx Lorenzoni (PL). Ambos afirmam que não venderiam o Banrisul neste momento, mas em outras ocasiões, fora dos períodos eleitorais, já se declararam a favor da venda. O ex-ministro de Bolsonaro e deputado federal Onyx, inclusive, defendia a privatização do Banco Meridional do Brasil, o segundo banco entregue aos banqueiros, em 1997, após longa resistência dos bancários e da sociedade gaúcha.

Já os candidatos Edegar Pretto (PT), Vieira da Cunha (PDT), Vicente Bogo (PSB), Roberto Argenta (PSC) e Rejane de Oliveira (PSTU) declararam que apoiam o Banrisul público.

De acordo com o diretor de Comunicação da Fetrafi-RS, Juberlei Bacelo, é preciso que as pessoas fiquem atentas aos perfis e histórico dos candidatos não só ao governo do Estado, mas também ao parlamento gaúcho, “pois toda e qualquer decisão sobre as empresas públicas passa pela aprovação dos deputados e deputadas”.

PEC 280

É preciso relembrar que, em 2021, a bancada governista da Assembleia Legislativa aprovou a PEC 280, que retirou da Constituição Estadual a obrigatoriedade da realização de plebiscito popular para a privatização do Banrisul, Corsan e Procergs. Ou seja, preparou o terreno para o próximo governador vender o banco sem consultar a opinião da população.

À época, a diretora da Fetrafi-RS Denise Falkenberg Corrêa criticou a aprovação da PEC 280 que, em suas palavras, retira direitos do povo. “Além de romper com sua palavra, Leite ainda se referiu à população como sem condições de decidir, colocando que democracia é igual à burocracia. Não vamos nos iludir, o atropelo para aprovação é para privatizar o patrimônio público”, afirmou Denise na ocasião.

Porque é urgente a defesa do Banrisul público

É preciso ter clareza que bancos públicos fortes podem alavancar a economia porque direcionam recursos para setores estratégicos do Estado. Em todo o mundo, bancos estatais são balizadores do mercado financeiro. Privatizá-los pode gerar grandes prejuízos a toda a população.

Presente em 497 cidades do Estado, sendo que em 117 municípios é o único banco, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul faz parte da vida de 98,54% da população gaúcha. De acordo com o presidente do SindBancários, Luciano Fetzner, “o Banrisul é imprescindível para o desenvolvimento do Estado e as pessoas reconhecem isso, mas a população precisa saber quem são os candidatos que também valorizam o banco dos gaúchos e das gaúchas”.

Na opinião de Luciano, este é justamente o momento de eleger governantes e parlamentares comprometidos(as) com a sociedade, que queiram reduzir desigualdades, a fome, o desemprego, que queiram melhorar a vida do povo. “O Banrisul é uma empresa pública de economia mista e que aporta recursos indispensáveis nos cofres públicos do estado. Sem Banrisul, quem sofre é o povo gaúcho que amargará menos investimentos. Esperamos que a população do Rio Grande mostre nas urnas que quem se posiciona contra o nosso patrimônio não merece ser representante do povo gaúcho”, avalia o dirigente sindical.

“Sabemos que bancos privados priorizam seu compromisso com o lucro. Mas os bancos públicos têm compromisso com o conjunto da população, têm a missão de alocar recursos no intuito de melhorar a vida das pessoas, de atender os interesses do conjunto da sociedade, não de alguns apenas. Ao redor do mundo vimos muitos bancos sendo reestatizados para se enfrentar crises econômicas. Infelizmente temos candidatos por aqui que pensam o oposto: no momento em que mais precisamos do nosso Banrisul, falam em entregá-lo para o capital privado”, complementa Luciano.

Para Gilnei Nunes, diretor de Comunicação do SindBancários e empregado do Banrisul, “é importante reforçar que quando falamos de empresa pública lucrativa, parte do resultado volta para os cofres do governo e é reinvestido em Saúde, Segurança e Educação. Diferentemente de empresas privadas, onde o resultado vai unicamente para seus donos aumentarem suas fortunas pessoais”. O dirigente reforça que a luta pela manutenção do banco público deve ser constante. Vender empresas públicas interessa muito aos acionistas, que não fazem questão de esconder sua ganância diante da venda de uma estatal estratégica. Se for vendido, o povo gaúcho será diretamente afetado, tanto pela redução imediata de postos de trabalho, quanto pela piora no atendimento oferecidos à população.

Neste sentido, o vice-presidente da CUT-RS e ex-presidente do SindBancários Everton Gimenis alerta sobre as perdas que a privatização gera para o Estado e população: “Quando o Estado vende uma empresa pública, ela deixa de pertencer à sociedade e vira uma empresa privada, cujos acionistas ficam com todo o lucro. A população apenas paga a conta com tarifas ainda mais caras e serviços geralmente precários”.

Para Gimenis, apesar de terem tirado da população o direito de decidir a respeito da venda das empresas públicas, a grande maioria dos trabalhadores sabe da importância do Banrisul para a soberania do RS. Além disso, a venda não é solução para nada. “Os recursos vindos da privatização sanariam as contas de curto prazo. Mas e nos anos seguintes?”, questiona o dirigente.

Nova fase da campanha Eu Sou Banrisul

Na reta final da corrida ao comando do Palácio Piratini e às cadeiras da Assembleia Legislativa, a Fetrafi-RS, representando seus sindicatos filiados, e o SindBancários Porto Alegre e Região lançam uma nova fase da campanha de mídia Eu Sou Banrisul. Nesta quinta-feira, 8 de setembro, as entidades realizaram uma plenária virtual de mobilização da categoria, na qual explicaram os objetivos da campanha.

Desenvolvida pela Verdeperto Comunicação, a Campanha Eu Sou Banrisul tem como foco os candidatos e candidatas ao governo do Estado e ao Legislativo. “Queremos que a manutenção do Banrisul público seja pautada na campanha política e que os candidatos revelem seus planos para o Banco”, afirma Juberlei Bacelo.

* Em recente pesquisa do Ipec (antigo Ibope) no Rio Grande do Sul, 49% dos entrevistados se disseram contra a venda do banco público, ante 28% de pessoas favoráveis. Outros 9% disseram que não são favoráveis nem contrários, enquanto 15% disseram que não sabem ou não responderam à questão.

Fonte: Amanda Zulke/Imprensa SindBancários, com informações da Fetrafi-RS

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