Metas abusivas adoecem trabalhadores e podem levar à morte

Quarenta e quatro pessoas, em média, tiram a própria vida por dia no Brasil. Os dados, divulgados em julho passado, são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com o levantamento, o número de suicídios no Brasil cresceu 11,8% em 2022 (16.262) em comparação com 2021 (14.475). 

No mundo, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada ano, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida. Isso representa, em média, um caso a cada 40 segundos. É a quarta maior causa de morte em jovens entre 15 e 29 anos. Há indícios de que, para cada pessoa que morre por suicídio, é provável que haja mais de 20 outras que tentam dar fim à própria vida.

Fenômeno social que constitui um grave problema de saúde pública, o suicídio impacta diretamente na vida de familiares e amigos, gerando prejuízos emocionais, sociais e/ou econômicos. Estima-se que para cada caso, entre 6 e 10 pessoas são afetadas diretamente. 

Bancários

Para Marcelo Finazzi, doutor em Administração pela UNB, “o que se despreza e se omite de forma sistemática em estudos sobre o tema do suicídio é a forte relação entre o fenômeno e aquilo que na sociedade moderna é fator estruturante de nossa identidade pessoal e profissional: o trabalho”. Em sua tese, intitulada “Da patologia da solidão à morte de si: o suicídio no contexto do trabalho bancário”, Finazzi relaciona o aumento dos casos de suicídios entre bancários e bancárias nas décadas e 1990 e 2000, com a reestrutução das relações de trabalho, principalmente devido à substituição de homens por máquinas. 

Nos anos 90, os sucessivos planos de desligamento, demissões em massa, mudança cultural abrupta e o fim da tradição do emprego estável levaram a 01 caso de suicídio a cada 15 dias. As sucessivas reestruturações, com sobrecarga de trabalho, altas exigências de produtividade e a multiplicidade de tarefas fizeram com que os casos de transtornos mentais entre a categoria superassem os distúrbios osteomusculares nos anos 2000. 

“No lugar do convívio e da solidariedade, observa-se a duplicidade, a dissimulação, a ‘convivência estratégica’ e a má fé: rompimento dos laços de confiança, lealdade em favor de valores que exacerbam a disputa entre os próprios colegas……a multiplicação de suicídios no contexto do trabalho não é apenas decorrente das injustiças, quedas em desgraça ou assédios. Resulta da terrível experiência do silêncio dos outros, do abandono pelos outros, da recusa de testemunho pelos outros, da covardia dos outros…esses suicídios são reveladores da profunda degradação da vida em conjunto e da solidariedade no trabalho”, diz Finazzi em seu estudo. 

Prevenção e tabu

A tentativa de suicídio se desenvolve de maneira gradual. Portanto, intervir de forma precoce e adequada na situação, envolvendo a pessoa e seu conjunto de relações, é uma boa estratégia de prevenção. No entanto, a estigmatização e tabu são grandes obstáculos para a prevenção, impedindo que muitas pessoas que vivenciam problemas de saúde mental a ponto de pensar em suicídio procurem ajuda. Por isso, é fundamental desmistificar as fantasias e preconceitos com relação às doenças e tratamentos psiquiátricos, uma vez que muitos pacientes sofrem em silêncio, sem buscar atendimento por vergonha ou desconhecimento.

Relações de trabalho hostis, violentas e/ou competitivas são situações de vulnerabilidade que merecem atenção, enquanto ações de trabalho colaborativas/solidárias e acesso ao lazer constituem fatores de proteção para o risco de suicídio. “Dar atenção, demonstrar amor e carinho, e manter a proximidade da pessoa vulnerável é uma forma de prevenção. O suicídio pode atingir toda e qualquer pessoa, por isso temos que estar cuidadosos e atentos a todos que amamos e que nos cercam”, observa a diretora de Saúde da Fetrafi-RS, Raquel Gil de Oliveira. 

Peça ajuda

CVV (Centro de Valorização da Vida) é um dos principais serviços de aconselhamento no país de pessoas que enfrentam pensamentos suicidas. De acordo com o último relatório de atividades do CVV, por meio do número de telefone 188 (ligação gratuita), 3,5 mil voluntários atendem uma média de 8 mil ligações por dia.

Fonte: Assessoria de Comunicação da Fetrafi

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