Oferta de crédito a micro e pequenas empresas é insuficiente, mostram estudos do Sebrae e FGV

Na opinião do presidente da Fenae, Sérgio Takemoto, emprestar dinheiro para as pequenas empresas não é prioridade do governo

O socorro do Governo às micro e pequenas empresas não chega nem perto de ser satisfatório. É o que revela um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre a estimativa de crédito necessário para financiar o capital de giro dessas empresas em 2020. De acordo com os pesquisadores, a demanda de crédito será de R$ 472 bilhões. Segundo o levantamento, com base na oferta de crédito do Banco Central em 2019, R$ 202 bilhões não devem ser atendidos pelas instituições financeiras.

Dados do “Emprestômetro”, ferramenta do Ministério da Economia com dados sobre a oferta de crédito às micro e pequenas empresas, mostram que, até o dia 10 de julho (última atualização), o sistema financeiro emprestou R$ 17,69 bilhões, o que corresponde a somente 8,75% do valor que as empresas vão precisar. Considerando o valor bruto da demanda de crédito, que é de R$ 472 bi, o socorro do governo não chega a 4%.

Os dados do Emprestômetro concentram os seguintes programas de linha de crédito do Governo – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe), Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) e o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), administrado pelo BNDES (BNDES/FGI). 

Para Sérgio Takemoto, presidente da Fenae, a falta de crédito tem uma explicação. “O socorro às micro e pequenas empresas não chega porque o próprio ministro da Economia afirmou que ganha dinheiro emprestando para as grandes empresas, mas perde socorrendo as pequenas”, ressalta.

A afirmação citada por Takemoto foi dita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, amplamente divulgada pela mídia. “Não é prioridade desse governo oferecer crédito para salvar essas empresas”, avalia.

O estudo da FGV 

O levantamento considerou os 17,3 milhões de microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte (MMPEs). Para chegar aos números, os pesquisadores calcularam a estimativa de faturamento que estas empresas teriam em situação normal e a queda do faturamento provocada pela pandemia. Depois, estimaram o crédito necessário para financiar o capital de giro e compararam com o crédito disponível pelo sistema financeiro.

Segundo o estudo, as vendas para essas empresas são essenciais porque, com a falta de crédito, muitas vezes utilizam recursos próprios para financiar a necessidade de capital de giro, principalmente a antecipação de vendas no cartão de crédito, por exemplo. Com a pandemia e a necessidade do fechamento do comércio, as vendas caíram bruscamente. Assim, muitas empresas tiveram que demitir funcionários para reduzir custos, causando mais desemprego e acentuando a crise econômica e social. Assim, a oferta de crédito, é necessária para diminuir os efeitos da pandemia.

O estudo também revela que, mesmo antes da crise, a oferta de crédito diante das necessidades das MMPEs já era insuficiente. E ainda: “Vale dizer que esses números desconsideram o fato de que os bancos estão concedendo consideravelmente menos crédito em 2020 do que em 2019.”

Caixa atinge limite do Pronampe

Das linhas de crédito do governo, o Pronampe é o que mais empresta. Mas os R$ 15,9 bilhões disponíveis para microempresas com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões, está chegando ao fim.

Primeiro banco a operar o programa, a Caixa Econômica Federal atingiu na última terça-feira (14) o limite de R$ 5,9 bilhões autorizados pelo Fundo Garantidor de Operações (FGO). Somado ao valor de R$ 1,8 bilhão concedido por outra linha de crédito, o Fampe, o banco público contratou R$ 7,7 bilhões.

O Banco do Brasil também ampliou o limite, passando de R$ 3,74 bilhões para R$ 4,98 bilhões. Já o Itaú, único banco privado que começou a emprestar pelo Pronampe, atingiu o seu limite de R$ 3,7 bilhões em apenas 5 dias. “Isso demonstra o desespero do pequeno empresário para salvar seu negócio e o emprego dos seus funcionários”, ressalta o presidente da Fenae. Ele avalia que o socorro chegou tarde para muitas empresas. “Estávamos em crise antes da pandemia e essas empresas já não conseguiam crédito nos bancos. Sem o socorro às pequenas empresas, elas não empregam; sem emprego, a gente não sai da crise”, alerta Takemoto.

Pesquisa Sebrae

A 5ª edição da pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi divulgada na terça-feira (14). Ela aponta que os pequenos negócios apresentam sinais de lenta reação. No entanto, também revela que a concessão de crédito ainda não tem acompanhado o aumento significativo da procura dessas empresas por empréstimos. Entre a 4ª e a 5ª edição da pesquisa, o percentual de empreendedores que buscaram crédito subiu de 39% para 46%. A pesquisa ouviu 6.470 empresários de pequenos negócios dos 26 estados e DF, entre os dias 26 a 30/06/2020.

“Ainda estamos longe de vencer a crise. E sem o destravamento do dinheiro disponível nos bancos, essa retomada será extremamente lenta ou até fatal para os pequenos negócios, pois a reabertura implica em gastos e não necessariamente em demanda de clientes”, ressalta o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

Para o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo, o socorro às pequenas empresas é crucial porque é um dos setores que mais geram empregos. “O setor de serviço, setor de comércio, restaurantes e lojas vão sofrer um dano muito grande e muito grave. Deveria ser atendido porque é um setor que tem um compromisso muito grande com o emprego”, avalia.

Na opinião de Belluzzo, as ações tímidas e ineptas do Governo vão prejudicar a retomada da economia no período pós-crise. Para ele, é necessário salvar as empresas e garantir a renda das pessoas. “Você vai gastar para garantir a renda das pessoas que, por sua vez, vão usar essa renda para gastar. E, portanto, essa renda volta para as empresas, que também vão gastar e gerar receita fiscal. Explicando assim, parece óbvio, mas não é o que passa pela cabeça do pessoal do governo”, critica.

Com informações Fenae

Foto: Agência Senado

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