Bolsonaro libera mais 118 agrotóxicos enquanto país vive tragédia histórica

Ainda há estudos para liberação de mais 218 venenos

O Ministério da Agricultura do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) aprovou mais 118 novos agrotóxicos desde março, quando começaram a ser tomadas as medidas emergenciais para o controle da pandemia no novo coronavírus no país, segundo levantamento da Agência Pública com a agência Repórter Brasil. No ano passado, 475 agrotóxicos tiveram registro liberado, recorde histórico.

A pasta ainda analisa a liberação de outro 216 produtos, já que o processo não foi interrompido durante o enfrentamento da maior crise sanitária dos últimos 102 anos. O governo federal incluiu a atividade no grupo dos “serviços essenciais”.

Para a pesquisadora Larissa Mies Bombardi, o governo Bolsonaro está aproveitando os olhares centrados na tragédia do novo coronavírus para “tornar lei o que é contestável”.

Nesta semana, a bancada ruralista – que apoia o governo – tentou passar na Câmara a Medida Provisória 910.  Apelidado de MP da grilagem, o projeto altera regras de regularização fundiária que beneficiariam o setor.

“Eu diria que isso é um oportunismo sem precedentes. Não é hora da gente discutir isso. É hora da gente cuidar da pandemia”, criticou Larissa, professora da Universidade de São Paulo (USP), especialista em agrotóxicos e autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

De acordo com a pesquisadora, por trás de toda essas tentativas do governo está o projeto agropecuário. Para ela, há anos ele permite a “destruição das nossas riquezas, a supressão das nossas florestas”, e não para a produção de alimentos, mas de commodities.

Ceará, Rio, covid-19

Segundo Larissa, o país tem hoje o tamanho de uma Alemanha só em plantação de soja. Enquanto isso, 15 pessoas morrem por dia de subnutrição. “O Brasil, no discurso oficial, gaba-se de dizer ‘alimentamos o mundo’. Não, nós não alimentamos nem nós mesmos. A gente não superou nem questões básicas. Possivelmente, esse espraiamento, esse aumento do número de casos da covid-19 em estados que não têm saneamento básico está associado a essa estrutura”, adverte.

Em artigo, publicado no final de abril, no site do Le Monde Diplomatique Brasil, a pesquisadora aponta para um relação da explosão de casos, em estados como Amazonas e Ceará, com a falta de acesso ao tratamento de água e esgoto, principalmente no Ceará. Em grande parte dos municípios da região, mais de 25% da população urbana não tem acesso a água tratada. No Amazonas, 87,4% da população não é atendida com coleta de esgoto.

Há estudos, inclusive, que apontam a persistência do Sars-Cov-2 – o coronavírus – nas fezes, e, portanto nos esgotos, como já foi publicado na The Lancet, uma das maiores revistas médicas do mundo. A gravidade é que, nesses locais, a falta de coleta de esgoto e de tratamento de água pode ser um potencial multiplicador.

Fonte: CUT

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