Che Guevara: uma vida dedicada ao socialismo

No domingo, 8 de outubro, fez 50 anos que o líder guerrilheiro argentino, Ernesto Che Guevara, foi assassinado na Bolívia. O Sindicato presta uma homenagem a este que é um dos mais importantes revolucionários do continente americano. O político, jornalista, escritor e médico argentino cubano, também conhecido como “Che” Guevara nasceu em Rosário, na província de Santa Fé, na Argentina, no dia 14 de junho de 1928.  Foi considerado pela revista norte-americana Time uma das cem personalidades mais importantes do século XX. Morreu assassinado em 8 de outubro de 1967, numa vila do município de La Higuera, na Bolívia.

Che Guevara tornou-se um ícone internacional, e ainda que contraditoriamente, uma marca de alto apelo consumista. Sua frase “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás” e a foto de seu perfil revolucionário tirada em de março de 1960, pelo fotógrafo Alberto Korda, figuram em camisetas vendidas em massa há muitos anos.

Che Guevara foi um dos principais nomes da revolução Cubana (1953-1959), e até 1965 participou ativamente da reorganização do Estado cubano. Após este período organizou a guerrilha em vários países, como Congo e Bolívia. Antes foi presidente do Banco Nacional e comandou o Ministério da Indústria de Cuba.

Infância

Che era o mais velho dos cinco filhos de Ernesto Guevara y Lynch (1901-1997) e de Celia de la Serna y Llosa (1906-1965), ambos pertencentes a famílias da classe alta argentina. Ernesto foi apelidado pelos seus pais de Ernestito, para diferenciá-lo do pai, depois de Tete, pelo qual foi apelidado por sua família e pelos amigos de infância. Com dois anos de idade teve o primeiro ataque de asma, uma doença que iria sofrer por toda sua vida.

Em 1944, os negócios da família de Che vão mal e Ernesto emprega-se como funcionário da Câmara de uma vila, nos arredores de Córdoba, para ajudar as finanças em casa, sem deixar, contudo, de estudar. Em 1946, terminou o liceu. Os Guevara mudaram-se para Buenos Aires e Ernesto ingressou na universidade, estudando medicina. Em 1946, foi chamado ao serviço militar e dispensado por causa da asma.

Juventude e viagens

As viagens de Ernesto Guevara pela América Latina, por terra e por mar, passando, inclusive, pelo litoral brasileiro, foram importantes para começar a definir suas ideias e sentimentos sobre as graves desigualdades sociais latino-americanas.

Em 1951, seis meses antes de se formar em Medicina, decide interromper o curso para iniciar com Alberto Granado, uma grande viagem pelo continente, de Buenos Aires a Caracas, na velha motocicleta do companheiro, uma Norton 500 cc, fabricada em 1939 e apelidada de La Poderosa II. Nessa viagem, começa a ver a América Latina como uma região de identidade econômica e cultural única. Sobre esses episódios, tanto Guevara como Alberto Granado escrevem diários sobre suas viagens, mundialmente conhecidos como Diários de motocicleta, nos quais o cineasta brasileiro Walter Salles se baseou para seu filme com o mesmo nome, em 2004.

Em 1952, no dia do seu 24º aniversário, 14 de junho, numa festa que o pessoal do leprosário de San Pablo, no Peru, lhe ofereceu, Che expôs essas ideias aos seus anfitriões: “Acreditamos que a divisão da América em nacionalidades incertas e ilusórias é completamente fictícia. Constituímos uma só raça mestiça, que desde o México até o estreito de Magalhães apresenta notáveis semelhanças etnográficas”, escreveu.

Imersão na política

De volta à Argentina em 1953 acaba os estudos de Medicina e passa a dedicar-se à política. Atuou como repórter fotográfico cobrindo os Jogos Pan-Americanos do México, por uma agência de notícias argentina. Ainda em julho de 1953, inicia mais uma viagem pela América Latina, desta vez com seu amigo de infância Carlos Calica Ferrer.  Nessa oportunidade visita a Bolívia, em plena revolução iniciada um ano antes e entra em contato com o  Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR). Aí conhece Ricardo Rojo que integra um grupo de argentinos que vai se ampliando. Segue, Che e Galica para o  Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador até a Guatemala.

Na Guatemala, a situação política era crítica. Vindo de uma revolução estudantil que derrubara o ditador Jorge Ubico Castañeda, o país experimentou um breve regime democrático pela primeira vez em sua história. O povo havia eleito o presidente Juan José Arévalo, educador formado na Argentina defensor de uma ideologia denominada “socialismo espiritual”. Seu sucessor, o coronel Jacobo Arbenz, aprofundou as medidas democráticas de seu antecessor, promovendo a reforma agrária, contrariando profundamente os interesses da empresa United Fruit, dos Estados Unidos, que se ocupa então de desestabilizar o governo de Arbenz.

É neste contexto de embates ideológicos, que Che tenta trabalhar como médico do governo guatemalteco, não consegue, e enfrenta sérias dificuldades financeiras. A cidade de Guatemala, capital do país, abrigava grupos de exilados e militantes progressistas de esquerda de vários países latino-americanos. Entre esses militantes, Che conhece Hilda Gadea, que pertencia à Ação Popular Revolucionária Americana (Apra), colaboradora do governo de Arbenz. Com Hilda se casa e tem sua primeira filha, Hildita.

Nessa época entra em contato com a família do exilado nicaraguense Edelberto Torres e conhece também um grupo de exilados cubanos participantes da tomada do Cuartel Moncada. Entre eles, Antonio Ñico López com quem estabelece uma sólida amizade.

Evolução

As ideias de Che Guevara evoluíram, tornaram-se politicamente mais comprometidas, uma clara inclinação comunista. Apesar disso, ele se mantém afastado de qualquer organização política. Quando pouco tempo depois o Partido Guatemalteco dos Trabalhadores (PGT), de tendência comunista, lhe comunica que para trabalhar como médico do serviço público era necessário filiar-se, ele se recusa indignado.

Em meados de 1954, mercenários dos EUA desferem bombardeios aéreos sobre a cidade de Guatemala, enquanto por terra, tropas invadem o país mandadas de Honduras por Castillo Armas, aliado dos estadounidenses. Che se alista nas brigadas de saúde e nas brigadas juvenis comunistas que patrulhavam as ruas durante a noite. O golpe militar ocorreu em 27 de junho de 1954. Seis dias depois Castillo Armas estabelece uma ditadura, desfazendo as medidas que haviam conquistado avanços democráticos. Guatemala inicia um longo período de ditaduras.

México, santuário da esquerda

Ainda em 1954, no México, através de Ñico López, Guevara conhece Raúl Castro, que logo o apresentaria a seu irmão mais velho, Fidel. O México, então, era um santuário para os perseguidos políticos do mundo inteiro. O país havia desenvolvido uma cultura popular com forte identidade latino-americana derivada da Revolução de 1910, a primeira revolução social triunfante da História. São testemunhas dessa característica cultural, a reformista Universidade Autônoma do México (Unam), os murais de Diego Rivera, Siqueiros e Orozco e o cinema de linguagem popular com Cantinflas e Maria Félix. Che trabalhou como repórter fotográfico e em um hospital. Volta a viver com Hilda Gadea e encontra casualmente com Ñico Lopez, pelas mãos de quem foi levado a uma reunião de guerrilheiros cubanos, os moncadistas (referência ao levante do Quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953, que levou à prisão o líder Fidel Castro). Entre os moncadistas estava Raúl Castro, irmão de Fidel e atual presidente de Cuba. Na época, Raúl, filiado ao comunista PSP (Partido Socialista Popular), era mais radical do que seu irmão. Em junho de 1955, Raúl foi ao México preparar a ida de Fidel, que ganhara liberdade por uma anistia decretada por Fulgência Batista, então presidente de Cuba.

Em julho de 1955, Fidel chegou ao México. Duas semanas depois ofereceu a Ernesto Guevara uma vaga como médico do Movimento 26 de Julho, o que Che aceitou imediatamente. O M26-7 passou a receber treinamento de guerrilha nas cercanias da capital mexicana, sob o comando do coronel espanhol Alberto Bayo Giroud.

Em 1956, foram todos presos, Fidel, Raúl, Che e seus companheiros. No interrogatório, Guevara abriu sua condição de comunista e disse que o grupo se preparava para fazer uma revolução em Cuba. Disse também que era partidário da luta armada em toda a América Latina. O comportamento, tachado de estranho, foi atribuído a sua “honestidad a carta cabal”, honesto a toda prova. O golpe de Estado desferido por Fulgêncio Batista, em 1952, em Cuba, se dera no marco do desencadeamento da Guerra Fria (EUA x URSS). Batista instalara uma ditadura sangrenta, sob a desculpa de combater o comunismo. Cresceram a corrupção e a violação de direitos humanos.

Resistência em Cuba

A resistência do presidente deposto, Carlos Prío Socarrás, contou com o apoio do M26-7, que inicialmente colaborava com o Partido Ortodoxo, de corte nacionalista. Guevara fazia parte dos 72 homens que haviam partido do México para Cuba em 1956 com Fidel Castro. Tão logo entram em território cubano foram emboscados por tropas do exército, com muitas baixas, restando apenas 12 sobreviventes que se dispersariam, para em seguida, se reinstalarem nas montanhas da Sierra Maestra, de onde retomaram a luta para derrubar Fulgencio Batista, apoiado pelos Estados Unidos.

Após a vitória dos revolucionários em 1959, Batista exila-se em São Domingos e instaura-se um novo regime em Cuba, de orientação socialista. Guevara, então braço direito de Fidel, torna-se um dos principais dirigentes do novo estado cubano.

Ché no Brasil

Esteve oficialmente no Brasil em agosto de 1961, quando foi condecorado pelo então presidente, Jânio Quadros, com a Grã Cruz da ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. A outorga dessa condecoração foi o desfecho de uma articulação diplomática, iniciada pelo núncio apostólico no Brasil, monsenhor Armando Lombardi, seguindo às instruções da Santa Sé, solicitando a ajuda do governo do Brasil para fazer cessar a perseguição movida contra a Igreja Católica em Cuba.

Da África à Bolívia

No Seminário Econômico de Solidariedade Afro-asiática entre 22 e 27 de fevereiro de 1965 em Alger, Guevara criticou publicamente, pela primeira vez, a política externa da União Soviética. Em 4 de outubro de 1965, Fidel Castro anunciou que Ernesto Che Guevara deixara a ilha para lutar contra o imperialismo.

Ele parte primeiramente para o Congo com um grupo de 100 cubanos “internacionalistas”, tendo chegado em abril de 1965. Em seguida parte para a Bolívia onde tenta estabelecer uma base guerrilheira para lutar pela unificação dos países da América Latina. É capturado na aldeia de La Higuera, no dia 8 de outubro de 1967, e executado.

Em 1997 seus restos mortais foram encontrados por pesquisadores numa vala comum, junto a outras ossadas, na cidade de Vallegrande, a cerca de 50 km de onde ocorreu a sua execução. Sua ossada estava sem as mãos, que foram amputadas (para servir como troféu). Seus restos mortais foram transferidos para Cuba, onde, em 17 de outubro do mesmo ano, foram sepultados com honras de Chefe de Estado, na presença de membros da sua família e do líder cubano e antigo companheiro de revolução Fidel Castro. Seu corpo encontra-se no Mausoléu Guevara, em Santa Clara, província de Villa Clara.

Seeb – RJ

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