Seminário lança cartilha sobre atuação sindical unificadora 

Publicação aborda caminhos para ampliar a representatividade sindical e fortalecer a organização dos trabalhadores do sistema financeiro.

Ao final do primeiro dia de atividades do seminário, foi lançada a cartilha “Estratégias para atuação sindical unificadora”, material que passa a orientar o debate sobre os desafios da representação sindical diante das profundas transformações em curso no sistema financeiro.

Durante a atividade, Mauro Salles, diretor de Saúde da Contraf-CUT, apontou como principal desafio construir formas de representação e negociação capazes de abarcar a diversidade crescente do setor. Isso exige enfrentar tabus históricos, como a resistência à negociação diferenciada, que em determinados momentos pode ter contribuído para a perda de representação sindical em alguns segmentos. Ele lembrou que experiências anteriores, como o caso da Finasa, demonstram que flexibilizações negociadas podem fortalecer a organização sindical e ampliar direitos.

Nesse sentido, o seminário tem como objetivo central apontar caminhos para que o Movimento Sindical se reorganize e consiga representar de forma efetiva os trabalhadores do ramo financeiro na nova realidade do setor. Salles ressaltou ainda que há base legal para a representação de trabalhadores cuja atividade preponderante é bancária, mesmo sem alterações legislativas. 

O sindicalista levantou a problemática em torno da legitimidade política de sindicatos com bases muito reduzidas, especialmente em um contexto de fechamento de agências, e apontou a necessidade de proteger a organização sindical, os dirigentes e a estabilidade. Para isso, defendeu o aprofundamento do debate sobre alternativas de reorganização, como fusões, incorporações, consórcios ou modelos de transição, capazes de fortalecer a representatividade.

“A expectativa do seminário é que a cartilha seja um instrumento vivo. Tenho certeza de que, depois deste encontro, vamos construir uma segunda versão, incorporando contribuições que certamente surgirão para aprimorar ainda mais o material”, disse Salles.

Sistema sindical rígido e necessidade de transição

Milton Fagundes, assessor jurídico da Fetrafi-RS, destacou que o debate busca evidenciar a complexidade da reorganização sindical e justificar o formato adotado pela cartilha. Segundo ele, o sistema sindical brasileiro é rígido, definido pela Constituição Federal e pela CLT, e estruturado a partir da lógica da fragmentação sindical, o que dificulta processos de unificação.

Diante desse cenário, Fagundes lembrou que a CUT apresentou, em 2023, um projeto nacional de transição com duração de dez anos, baseado em experiências de agregações sindicais como estratégia gradual para enfrentar esse desafio estrutural. Para ele, trata-se de retomar a premissa central do sindicalismo, segundo a qual o sindicato existe para organizar os trabalhadores e garantir conquistas coletivas para a classe trabalhadora.

O advogado ressaltou ainda a necessidade de conquistar todos os segmentos da classe trabalhadora que atuam no sistema financeiro, incorporando-os à organização sindical. Segundo ele, há instrumentos jurídicos que podem facilitar e tornar esse processo mais eficaz. Nesse contexto, a cartilha tem  um formato simples e direto, inspirado em um almanaque, para garantir acessibilidade, caráter didático e apoio ao trabalho cotidiano de reorganização e fortalecimento do Movimento Sindical.

Reinvenção e capacidade de organização

Ao encerrar o primeiro dia da Oficina, o diretor do SindBancários Porto Alegre e Região e mediador do evento, Luís Cassemiro, disse que é preciso se reinventar para organizar e valorizar todos os trabalhadores do sistema financeiro, sem disputar base com outros sindicatos. Ele destacou o orgulho da trajetória do Movimento Sindical, da organização nacional e da Convenção Coletiva, que acumula mais de 30 anos de conquistas.

Apesar da intensa disputa no Judiciário e do lobby dos banqueiros no Congresso, Cassemiro afirmou que não é necessário esperar mudanças na legislação para agir. “O Movimento Sindical dispõe de estrutura, capacidade política e instrumentos — nas áreas jurídica, de saúde e de organização sindical — para acolher e agregar esses trabalhadores, mesmo que inicialmente fora da estrutura legal tradicional. O desafio é grande e de longo prazo, mas há condições reais para enfrentá-lo e avançar”, concluiu.


Texto: Assessoria de Comunicação da Fetrafi-RS
Fotos: Assessoria de Comunicação do SindBancários de Porto Alegre

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