Em evento simbólico, Casa do Trabalhador de Pelotas avança no resgate de sua memória e estrutura
Em evento simbólico, Casa do Trabalhador de Pelotas avança no resgate de sua memória e estrutura
A Casa do Trabalhador de Pelotas, um dos endereços mais emblemáticos da história do movimento operário e sindical da cidade, foi palco de um evento significativo na última segunda-feira (18). A data foi escolhida para marcar a entrega de mais uma etapa do ambicioso projeto de reconstrução da memória material e imaterial do local. A mesa da atividade “Presente, passado e futuro: o processo de restauração da Casa do Trabalhador” foi composta por autoridades e lideranças sindicais.
Para a arquiteta e urbanista Simone Neutzling, responsável pelo projeto de restauro, o momento é crucial. “Nós estamos aqui celebrando a entrega de mais um passo importantíssimo desse projeto, que é um processo de preservação dessa casa com todas as suas histórias, suas memórias, e também da restauração da estrutura física do espaço”, explicou Simone durante o evento. A profissional destaca que o trabalho envolve atividades de educação, resgate da história e identificação da memória dos trabalhadores.

Parte da Semana do Patrimônio de Pelotas, o evento teve um caráter duplo: comemorar os avanços já conquistados na restauração do prédio centenário e lançar um apelo à comunidade. A população foi convidada a trazer fotos, objetos e relatos que ajudem a compor um painel e uma linha do tempo sobre as lutas, eventos culturais e histórias vividas dentro daquelas paredes, desde os tempos da antiga fábrica de sabão e velas até os dias atuais.
Jornada de reconstrução
A trajetória recente para chegar a esta etapa foi marcada por desafios burocráticos e políticos. Lair de Mattos, presidente da associação, relembrou que, há exatos dois anos, em um evento no local, haviam tomado a decisão crucial de “encarar as dificuldades” para buscar mudanças e melhorias. “A primeira conquista foi um feito burocrático: nós criamos a Associação Casa do Trabalhador. Era fundamental ter uma pessoa jurídica para poder caminhar na busca de recursos”, detalhou Lair. Esse passo, essencial para acessar editais e verbas, demandou também um “convencimento político” dos sindicatos sobre a importância do projeto.

Os esforços começaram a dar frutos. Segundo Lair, recursos já foram garantidos através de uma emenda parlamentar, por meio da ex-vereadora Carla Cassais (PT), e do Ministério Público do Trabalho. O diretor de Comunicação e Cultura do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região, Lucas Cunha, foi destacado como peça fundamental no empenho para viabilizar a criação e o registro da nova associação.
O trabalho agora, como comparou Lair, é como “trocar o pneu do carro enquanto está andando”. Isso porque as melhorias imediatas feitas com os recursos já captados precisam estar alinhadas com o projeto de restauro patrimonial, que visa manter intactas as características históricas do imóvel. “Certamente que no Dia do Patrimônio do ano que vem nós teremos muitas novidades”, garantiu o presidente.
Resgate histórico
O evento se apoia em um movimento paralelo de resgate da memória do local. Recentemente, a circulação do Jornal Liga Operária, resultado de três anos de pesquisa do jornalista Lóri Nelson Nogueira Dias, ajudou a reconstituir os 136 anos de atuação da casa. A publicação, realizada com recursos da Lei Complementar n° 195/2022, conhecida como Lei Paulo Gustavo, detalha como o espaço se tornou um centro de referência através da ajuda mútua, das manifestações políticas e dos encontros artísticos.

A refundação da associação em 2024, substituindo a entidade original da década de 1960, que havia sido extinta por questões legais, foi outro marco essencial para reacender o ideal de união da classe trabalhadora que deu origem ao local. A nova diretoria, formada por representantes de sete sindicatos, tem a missão de administrar a casa e promover atividades que revitalizem não apenas o prédio, mas também o seu papel na comunidade.
Com a memória sendo reconstruída pela comunidade e a estrutura física ganhando novo fôlego, a Casa do Trabalhador se prepara para reescrever seus próximos capítulos, reafirmando-se como um símbolo de luta, cultura e resistência em Pelotas.
Redação e fotos: Vitor Valente/Seebpel