Estudo reforça relação entre perfil genético e resposta à covid-19

Resultados preliminares de uma pesquisa em andamento no Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) evidenciam a participação de fatores genéticos na determinação da suscetibilidade ou resistência à covid-19.

Os pesquisadores já coletaram amostras biológicas e informações de oito pares de gêmeos infectados pelo novo coronavírus. No grupo dos irmãos monozigóticos (originados a partir de um mesmo óvulo que se dividiu), quatro dos cinco pares responderam de forma idêntica à doença. Já entre os irmãos dizigóticos (formados a partir de dois óvulos e dois espermatozoides diferentes), os três pares apresentaram respostas diferentes à infecção.

Os dados foram apresentados pela coordenadora do CEGH-CEL, Mayana Zatz, durante o primeiro encontro do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação de 2020. O evento on-line é organizado pela FAPESP e pelo Instituto do Legislativo Paulista.

“Queremos explicar o caso de pacientes jovens com formas letais da covid-19 e idosos ‘resistentes’. Resolvemos pesquisar os dois extremos. Jovens que devem ter variantes genéticas de risco e idosos que são assintomáticos ou tiveram poucos sintomas e, portanto, devem ter variantes genéticas de proteção”, disse Zatz durante sua apresentação.

Os primeiros casos que chamaram a atenção do grupo de Zatz foram de casais em que o homem teve a forma grave da covid-19 e a mulher testou negativo para o vírus. Um dos voluntários, de 72 anos, chegou a ficar duas semanas internado na UTI. “A esposa e a mãe, de 98 anos [que vive com o casal], não tiveram absolutamente nada”, disse.

O grupo já recebeu mais de 800 e-mails de pessoas que querem participar do estudo. Dessas, 300 tiveram recolhidas amostras biológicas e formulários epidemiológicos preenchidos, com exames anexados. Há 85 casos de casais chamados discordantes, em que um foi afetado pela doença e o outro não. A pesquisa tem ainda dados de 30 adultos com menos de 60 anos, incluindo crianças, que morreram por covid-19. As mulheres compõem 70% dos assintomáticos na pesquisa, um dado compatível com estudos internacionais que vêm mostrando a maior suscetibilidade dos homens à doença.

Além disso, seis centenárias que foram expostas ao vírus tiveram material coletado: uma com 104, outra com 106 e três com 100 anos. A de 104 mora com a filha e a neta, que tiveram covid-19, mas ela mesma não teve nenhum sintoma, apesar do histórico de internações, como a retirada de um rim em 1967, cirurgias de esôfago e bexiga nos anos 1980 e sessões de hemodiálise, realizadas entre 2005 e 2014.

“A partir das amostras coletadas pretendemos estabelecer diferentes linhagens celulares para estudos funcionais, principalmente dos centenários curados e dos indivíduos assintomáticos. A ideia é verificar como essas células se comportam na presença do vírus e tentar entender por que são resistentes. Essa será uma resposta muito importante para entendermos a doença”, disse a pesquisadora.

Fonte: Sul21 e Opera Mundi

Foto: Andréa Rêgo Barros/CPR

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