Novas mensagens indicam que Bolsonaro interferiu na PF

Foto: Marcos Corrêa/PR

Novas mensagens trocadas entre o ex-ministro Sergio Moro (Justiça) e o presidente Jair Bolsonaro – divulgadas na noite do sábado (23) pelo jornal O Estado de S.Paulo – reforçam a versão do ex-juiz de que o presidente interferiu diretamente nas atividades da Polícia Federal ao exigir a troca do então diretor-geral Maurício Valeixo.

“Moro, o Valeixo sai nessa semana”, escreveu o presidente. “Isto está decidido”, reforçou em seguida, em mensagem às 6h26 do dia 22. A seguir, Bolsonaro completou: “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio [sic].”

Cerca de 11 minutos depois, Moro respondeu: “Presidente sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente, estou ah disposição para tanto”, escreveu.

Pouco depois, Bolsonaro enviou dois vídeos e reclamou com Moro de receber informações de “terceiros”. “Força Nacional, Ibama, Funai… As coisas chegam para mim por terceiros… Eu não vou me omitir”, disse o presidente, às 8h01m.

O teor das mensagens evidenciam que Bolsonaro falava objetivamente da Polícia Federal, e não da sua segurança pessoal, quando abordou o assunto na reunião ministerial do dia 22 de abril. Na reunião ministerial, que começou às 10 horas daquela quarta-feira, Bolsonaro estava visivelmente irritado. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse o presidente.

As mensagens trocadas entre o presidente e o então ministro, contrariam a versão de Bolsonaro de que Valeixo pediu para ser demitido. O presidente tem dito em entrevistas que foi o ex-diretor que pediu a demissão. Segundo ele, isso comprova que não houve interferência da sua parte. “O senhor Valeixo de há muito vinha falando que queria sair.”

Num total de oito, as mensagens reveladas hoje constam de inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se Bolsonaro interferiu na Polícia Federal para ter acesso a informações de investigações sigilosas contra seus filhos e amigos, como acusou Moro.

Em depoimento para o inquérito, no dia 11 de maio, Valeixo afirmou que jamais formalizou um pedido de demissão. De acordo com ele, um dia antes da publicação no Diário Oficial da União, recebeu um telefonema do próprio presidente que perguntou se ele concordaria que sua exoneração fosse considerada “a pedido”. Sem alternativa, assentiu. Valeixo disse que sentiu-se sem alternativas e, por isso, concordou. Afirmou ainda que Bolsonaro justificou que queria alguém no cargo com quem tivesse “afinidade”.

A reunião ministerial é uma das provas anexadas ao inquérito, que tem como relator o ministro do STF Celso de Mello. Foi o magistrado quem autorizou a divulgação do vídeo com o conteúdo da reunião, na última sexta-feira.

Procurada para falar sobre as mensagens, a Secretaria Especial de Comunicação (Secom), informou que não iria comentar. A defesa de Moro disse que “as declarações do presidente da República demonstram, de maneira inquestionável, sua vontade de interferir indevidamente” na Polícia Federal. “Esses elementos probatórios somam-se às demais diligências investigatórias, inclusive ao vídeo da reunião de 22 de abril, comprovando as afirmações do ex-ministro Sérgio Moro”, afirmou o advogado Rodrigo Rios.

Fonte: Sul21 e Rede Brasil Atual

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