Em pronunciamento ao som de panelaço, Bolsonaro volta a distorcer declaração da OMS

Ao som de mais um panelaço em inúmeras cidades do país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez novo pronunciamento em cadeia nacional na noite desta terça-feira (31) sobre a pandemia do coronavírus. Na fala, ele repetiu a distorção que fez da declaração do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, sobre as pessoas em situação de maior vulnerabilidade. “O que será do camelô, da diarista?”, questionou ao dizer que segue recomendação da OMS. “Temos uma missão: salvar vidas, sem deixar pra trás os empregos”, afirmou ainda.

Na manhã de ontem (31) Bolsonaro havia dito que o líder da OMS tinha se posicionado contra o isolamento e que as pessoas têm de sair de casa para trabalhar, contrariando a orientação das autoridades de saúde, do país e do mundo. Ghebreyesus usou as redes sociais para responder a Bolsonaro. “As pessoas sem renda regular ou qualquer colchão financeiro merecem políticas sociais que garantam a dignidade e lhes permitam cumprir as medidas de saúde pública, recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde”, afirmou o diretor-geral da OMS.

Bolsonaro, no entanto, baixou o tom em relação às declarações que vinha dando desde o início da pandemia e não falou em “gripezinha” ou chegou a propor, diretamente, o fim do isolamento. Ele chegou a dizer que “estamos diante do maior desafio da nossa geração”. O presidente, apesar de exaltar o apoio dos militares no combate ao coronavírus, também não mencionou o aniversário do golpe militar, como chegou a se especular que poderia.

Bolsonaro ainda anunciou “medidas do governo” e citou a criação do auxílio mensal emergencial de R$600 a R$1.200, que foi aprovado no Congresso Nacional por pressão da oposição e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na segunda-feira, mas ainda não foi implementado pelo governo.

O presidente também voltou a citar a hidroxicloroquina, apesar de ele mesmo admitir que não foi comprovada a eficácia do medicamento no tratamento de pessoas infectadas pelo coronavírus.

Crise

O pronunciamento de Bolsonaro acontece em meio a uma enorme instabilidade em seu governo em razão da forma com que ele tem lidado com o surto do novo coronavírus.

A crise reflete em um leque de pedidos de impeachment e afastamento do presidente. Na noite de segunda-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurelio Mello, encaminhou à Procuradoria-Geral da República uma notícia-crime apresentada pelo deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) que pede o afastamento por 180 dias para apurar possíveis delitos do ex-capitão. O chefe da PGR, Augusto Aras disse que vai dar uma resposta em três dias.

Além disso, lideranças do campo progressista divulgaram uma carta também na segunda-feira exigindo a renúncia do presidente. “Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia”, diz o documento.

Foto: REUTERS/Adriano Machado

Fonte: Sul 21

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