Gallup: brasileiros nunca foram tão infelizes. E a situação deve piorar

Pesquisa mostra que as causas são a crise financeira e política. Para sociólogo Laymert Garcia dos Santos, a infelicidade tende a se aprofundar com os efeitos da destrutiva “política de morte” de Bolsonaro
por Cida de Oliveira, da RBA publicado 22/03/2019 09h59, última modificação 22/03/2019 13h27
infelicidade tomou conta do Brasil, segundo o ranking do Instituto Gallup em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) e fundações internacionais. A crise econômica e a desconfiança em relação aos líderes da política, principalmente, fizeram o país perder 16 posições em relação ao ranking de 2015, quando era o 15º país mais feliz do mundo, na frente de Luxemburgo, Irlanda e Bélgica, entre outros.  O ranking tem o objetivo de influir em políticas públicas.

De lá para cá muita coisa mudou. Depois de assistir à gestação do golpe com as molecagens do candidato derrotado Aécio Neves (PSDB), o Brasil parou para assistir às chantagens do ex-presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ). Vieram então o processo de impeachment, o golpe, as malas de dinheiro, as conversas com políticos gravadas por Joesley Batista e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo isso em meio ao desemprego, aos ataques aos direitos trabalhistas comandados por Michel Temer e à crescente reverberação do discurso fascista do então deputado Jair Bolsonaro.

O Brasil está hoje em 32º lugar entre os 156 países avaliados no ranking. A população da Costa Rica, México, Chile, Guatemala e Panamá se considera mais feliz que os brasileiros em termos de questões políticas, econômicas e sociais – como PIB per capita e expectativa de vida – e até em aspectos subjetivos, como bem estar, liberdade, generosidade e percepção de corrupção.

A julgar por esses parâmetros, o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp0, acredita que a felicidade do brasileiro vai continuar a despencar com a “necropolítica” ou “política de morte” adotada pelo presidente Bolsonaro e seus auxiliares, que os seus eleitores demoram a começar a perceber.

“A tendência é de sermos mais infelizes, se consideramos o que estamos vivendo, e sobretudo os efeitos da política de destruição crescente, cujos efeitos ainda não se concretizaram completamente. A infelicidade vai aumentar. E muito”, acredita. Na sua avaliação, se a população brasileira fosse melhor informada e menos “desentendida e infantil”, estaria se sentindo muito mais infeliz do que já está. “Esse posicionamento no ranking é muito bom em vista da situação de destruição que o país está vivendo.”

O mais preocupante, segundo ele, é que não se pode dizer que a população esteja desinformada sobre a situação, porque Bolsonaro nunca fez e não faz mistério sobre sua política. “E agora, nessa viagem aos Estados Unidos, disse que não veio (ao governo do Brasil) para construir, mas para ‘desconstruir’. No caso dele, na verdade, é destruir”, afirma Laymert, que está analisando o discurso de Bolsonaro proferido ao longo dos últimos 30 anos.

Leve despertar

Para o sociólogo, a queda da popularidade do presidente apontada esta semana pelo Ibope é ainda muito tímida e reflete um “leve despertar”. A aprovação em queda ainda estaria alta mesmo para um governante que em menos de três meses já fez muitos estragos. “Acho que, embora esteja despencando, caiu pouco diante do nível de destruição em todos os setores. Na saúde, na educação, nas propostas de reforma da Previdência, violência, política externa, de gênero, econômica, política, cultural, social, ambiental. Só tem surgido destruição. Não aconteceu nada de positivo, absolutamente nada”, avalia.

A queda da popularidade e essa infelicidade, conforme  Laymert, são sintomas de que as pessoas estão se decepcionando. “Mas para mim isso acontece em câmera lenta. O grande problema é o descompasso entre a percepção da destruição, muito lenta, e a velocidade do processo destrutivo. O temor é que, quando despertarem, as instituições estarão destruídas e não seja possível salvar mais nada. Esse descompasso é o que mais espanta; não existe reação à altura. A classe média é infantil. Todo mundo vai pra rua no carnaval e manda o Bolsonaro ‘tomar no cu’. O problema é que é só na festa. Não há mobilização. Quando despertarem, não sei se vai dar tempo”.

Brasileiro era mais feliz no tempo de Lula
Reconhecido como o ‘O Cara’ pelo então presidente dos EUA Barack Obama, Lula era ‘disputado’ por chefes de estado de diversas partes do mundo na hora da foto oficial; Bolsonaro se contentou com a cara de quem comeu e não gostou de Trump

Felicidade

A infelicidade recorde dos brasileiros foi divulgada na mesma semana em que Bolsonaro visitou os Estados Unidos. A expressão semelhante à de quem comeu e não gostou de Donald Trump, ao receber a camisa 10 do Brasil, deixa a impressão de que o mandatário estadunidense foi contagiado pelo sentimento que prevalece no Brasil segundo o ranking do Instituto Gallup.

Coincidentemente, em 2010, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi elogiado pelo então presidente Barack Obama, que o chamou de “o cara” diante de diversas autoridades mundiais, durante encontro do G20, o povo brasileiro se diziam ser tão feliz como jamais havia sido antes.

Uma reportagem da revista IstoÉ chegou a estampar na capa da edição de 20 de agosto daquele mesmo ano a manchete “Nunca fomos tão felizes”. A matéria mostrava a história de vários brasileiros que, com a economia a todo vapor e os avanços sociais no país, descobriram uma felicidade que nunca tinham vivido. Estavam tomados pelo sentimento de bem-estar, comprando mais carros, viajando mais, adquirindo a casa própria e realizando sonhos.

Na época a felicidade era tanta que o brasileiro se sentia mais pleno do que as pessoas de países ricos apesar de ocupar a 32ª posição entre 36 no Índice para Viver Melhor, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil estava atrás de todos os países desenvolvidos no índice que somava 11 indicadores com o mesmo peso, indo de renda a emprego, satisfação de vida e segurança, para capturar a diversidade da sociedade e as prioridades de cada um.

“O Brasil está relativamente bem, há uma melhor dimensão de bem-estar no país”, disse na ocasião Romina Boarini, então assessora da OCDE, ao jornal Valor Econômico de maio de 2012.

Fonte: Rede Brasil Atual

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